Outra confusão que é comum é a distinção entre gogodancer (gogoboy ou gogogirl) e stripper. Adrianinho explica que a diferença está somente no tipo de evento em que o dançarino está trabalhando naquele momento, ou seja, gogodancer costuma dançar animando pista de balada, e stripper já é mais performista, com figurinos temáticos e músicas mais sensuais. Ele mesmo se considera um pouco dos dois, já que trabalha nesses dois tipos de ambientes.
Preconceitos e tabus à parte, o dançarino erótico é um profissional como qualquer outro e a advogada Tania deixa claro que não há nenhuma regulamentação para esse tipo de profissão, o que acaba os deixando sem os direitos trabalhistas. Claro que há muitos que ainda confundem essas performances com prostituição e julgam aqueles que estão no palco fazendo seu trabalho e, assim, Adrianinho manda seu recado: "Precisa ter jogo de cintura e saber lidar com essas pessoas que tem pensamentos pequenos".
A realidade por trás dos dançarinos eróticos
Por Débora Duarte e Rubia Chikos
SEGREDOS DESNUDOS
Música alta. Luzes coloridas. Homens tirando as roupas no palco. Muitas mulheres na plateia gritando e aplaudindo. Um apresentador exótico narrando toda a experiência; em suas próprias palavras, uma viagem sensual. Essa é uma quarta-feira comum no Clube das Mulheres, localizado no bairro Vila Olímpia da capital paulista. Não é só nesse local que o strip-tease é apreciado pelas pessoas: muitas boates e casas de show espalhadas pelo Brasil tem os strippers - femininos ou masculinos - como protagonistas e são tema para um grande debate: como funciona o uso do corpo como instrumento de trabalho?
Adriano Oliveira, ou Adrianinho, como é conhecido artisticamente, tem 29 anos e trabalha como stripper desde os 21. Sempre teve como hobby a dança, e juntou o útil ao agradável quando participou de um concurso de novos gogoboys. "Trabalhar fazendo algo que gosta é gratificante", comenta. Trabalha em diversas casas noturnas em São Paulo, quatro dias por semana, quatro horas por dia. Mas, quando o trabalho é em algum tipo de evento particular, como despedidas de solteira ou aniversários, a performance é mais rápida.
Pé no chão, Adrianinho reconhece que esse trabalho é temporário. Apesar de conseguir manter um certo padrão de vida exclusivamente com o trabalho de stripper, já sabe o que vai fazer quando parar. "Alguns anos atrás, fiz curso de cortes de cabelo masculinos e pretendo abrir um salão junto com loja de suplementos alimentares", conta o dançarino. "Corpo bonito não dura pra sempre, né? Fiz o curso depois de já estar recebendo um retorno legal e aproveitei pra investir", completa.
Mesmo antes de começar o show, muitas das boates que possuem strippers já estão neste clima erótico. Ao chegar no Clube das Mulheres, além do Sex Shop logo na entrada, a plateia dá de cara com um garçom sem camisa para fazer seus pedidos. Paulo é esse "personagem" todas as quartas e quintas-feiras e já trabalha nesta área há quase quatro anos. Porém, diferente de Adrianinho, isso é apenas "um bico": "Não é minha profissão. Eu sou bancário formado em relações internacionais", conta. O garçom também não se importa em ser assediado pela mulherada. Para ele, é natural que as pessoas valorizem seu corpo se você o cuida e ainda completa: "É como se estivesse trabalhando aqui de camiseta".
Na porta do Clube das Mulheres, está Patrícia, 22. É a segunda vez que vai ao local e deixa suas intenções bem claras: ver os homens bonitos. Não vê problema nenhum em usar o corpo como instrumento de trabalho. "Desde que eles [strippers] não prejudiquem ninguém, está valendo", explica. Já dentro do Clube, Bárbara e Marina, aniversariantes, estavam acompanhadas das amigas Cíntia e Ana Paula. Quando perguntadas sobre o que mais chama a atenção em um lugar como aquele, Cíntia é a única que não menciona a forma física dos homens: "A atmosfera é muito brilhante", adiciona aos comentários das amigas.
Apesar de terem mentes abertas, as meninas admitem que ainda há preconceito com dançarinos eróticos. Para Ana Paula, é pior quando se trata de mulheres: "Para mulher, ainda veem mais o lado da prostituição. As mulheres vêm para admirar o corpo dos homens, e os homens têm outra mentalidade quando é uma stripper", argumenta.
Por mais que o pensamento de hoje seja menos conservador, ainda é complicado para muitos: "As pessoas têm dificuldade em aceitar quando não têm conhecimento", opina Adrianinho. Ele também adiciona que muitas pessoas enxergam seu trabalho como objeto de desejo e prostituição. O estudante de design Guilherme Culler, 21, compartilha da mesma opinião de Adriano. Acha que as pessoas acabam sendo preconceituosas pelo fato de não entenderem e nem tentarem entender como funciona esse tipo de profissão e ainda frisa: "O corpo é da pessoa e é ela quem decide o que fazer com ele".
Por mais que o pensamento de hoje seja menos conservador, ainda é complicado para muitos: "As pessoas têm dificuldade em aceitar quando não têm conhecimento", opina Adrianinho. Ele também adiciona que muitas pessoas enxergam seu trabalho como objeto de desejo e prostituição. O estudante de design Guilherme Culler, 21, compartilha da mesma opinião de Adriano. Acha que as pessoas acabam sendo preconceituosas pelo fato de não entenderem e nem tentarem entender como funciona esse tipo de profissão e ainda frisa: "O corpo é da pessoa e é ela quem decide o que fazer com ele".
No início da noite, Marcos Manzano deixa as regras do Clube das Mulheres claras: as espectadoras não podem tirar a roupa e a interação com os dançarinos é de acordo com o que eles determinam. O fator mais curioso é que quem for escolhida para ir ao palco pode tocar em todo o corpo dos performers, exceto a região íntima, o que faz com que não se possa confundir, de jeito nenhum, strip-tease com prostituição. A advogada trabalhista Tânia Mara Melo explica a diferença entre dança erótica e prostituição: "Um [o stripper] só exibe o corpo sem que a outra pessoa a toque e, na prostituição, há o uso do corpo no ato sexual".
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