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Adolescência: A descoberta do “Eu” 

Busca da identidade na adolescência pode ser turbulenta e afetar amadurecimento

Por Daniele Rodrigues e Mariana Perbone

Caroline Sousa com sua filha Maria Julia

Tênis Nike free trainer, bermuda e camiseta para treino, fone de ouvido e uma garrafa de água compõem a vestimenta do estudante Yuri Pedrosa, 17 anos, que chega a academia todos os dias às 19 horas. O adolescente vai ao encontro de Edson, seu personal trainer. “De vez em quando o Yuri se precipita e faz além do que eu determino para ele fazer. Isso foi já motivo de várias broncas que precisei dar. Ele é muito novo e é preciso ter cuidado com o tudo o que se faz, porque o corpo dele ainda está em desenvolvimento”, explica Edson Dias, formado em Educação Física pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul).O estudante conta que começou a fazer academia cedo por vaidade.

 

“Comecei a malhar aos 14 anos. Me achava muito magro e via que os ‘fortões’ tinham mais chances com as meninas. Fiquei com medo de falar com os meus pais, mas eles me apoiaram. Minha mãe me levou ao médico, fiz exames, passei na nutricionista e ela fez uma espécie de processo seletivo para achar um bom treinador para mim. Comecei a treinar e sempre que chegava em casa ia direto para a frente do espelho para ver se estava crescendo”.

Passagem da infância para a adolescência é um processo de amadurecimento importante para a fase adulta. Nessa transição, acontece a descoberta e o amadurecimento da identidade própria e a implantação dessa é o que anuncia o início da vida adulta. Lidar com essas transformações pode ser um bicho de sete cabeças para o adolescente e a presença dos pais se torna fundamental para ajudá-lo a lidar com os desafios a serem enfrentados nessa etapa da vida.

 

O adolescente passa por transformações que dão a ele um novo modo de ver, pensar e agir sobre tudo na vida, explica a psicóloga Sandra Regina Perbone, formada pela UNIFRAN (Universidade de Franca). Ganha de peso e altura, mudança no sistema hormonal e início do funcionamento do sistema reprodutor constituem mudanças físicas  importantes nessa fase. Além disso, o adolescente também passa a buscar sua independência e autonomia.

 

O personal trainer Edson Dias afirma que cada vez mais adolescentes entre 14 e 17 anos ingressam nas academias em busca de um corpo que para eles é perfeito  e qualidade de vida. O primeiro é o principal motivo da maioria, diz o profissional. “Entrar na academia tão cedo é uma atitude precoce e se torna perigoso, visto que eles ainda não possuem maturidade suficiente para ter os cuidados necessários e acabam, muitas vezes, passando dos limites”.

 

A transição nessa fase é chamada de puberdade ela é iniciada em torno dos 9 anos para as meninas e dos 10 anos de idade para os meninos. A primeira modificação aparente da puberdade é o aumento do tamanho dos seios nas meninas e dos testículos nos meninos. Este processo de mudança vai acontecendo gradualmente, passando por três estágios biológicos bem marcados: o pré-puberal, quando surgem as primeiras modificações corporais; o puberal, quando essas mudanças do organismo colocam em ação a capacidade reprodutiva; e o pós-puberal, no qual os órgãos funcionam tal qual num adulto e se adquirem os caracteres sexuais secundários.

 

O pediatra Dr. Fábio Funchal e psicóloga Sandra Regina afirmam que essas mudanças afetam tanto a vida do menino quanto da menina, sem distinções. Segundo Dr. Fábio, “ambos os sexos têm dificuldades, mas também alegrias por estarem vislumbrando novos horizontes”. A psicóloga Sandra Regina explica que o modo de lidar com as mudanças nessa fase é pessoal e varia de pessoa para pessoa. Ela diz que “as transformações e essa passagem são bastante difíceis, mas vai depender de toda a preparação do jovem, da estrutura familiar e de como ele busca ajuda durante esse período”.

Sandra explica que o maior desafio a ser enfrentado durante essa transformação é o de se conhecer e buscar autonomia. “Nessa fase, os adolescentes podem ficar muito rebeldes, questionadores e os pais também ficam assustados, porque o que é novo para o adolescente é novo para eles também. A busca da autonomia e da identidade, saber o que ele é e do que ele gosta acontecem junto com as questões da sexualidade e as escolhas profissionais que começam a surgir”. A psicóloga complementa afirmando que esse indivíduo passa por um momento muito duro, difícil e muitas vezes até doloroso, porque ele está procurando se conhecer de uma maneira muito completa e ele não tem maturidade para isso.

 

A adolescência em si já é um período com muitas novidades. E se elas fossem intensificadas por uma gravidez não esperada? Caroline Sousa, 22, que engravidou aos 13 anos, lembra de limitações que teve durante a adolescência “A vontade de fazer tudo que meus amigos faziam. Festas que nem sempre eu podia ir, viagem com os amigos no final do ensino médio, tudo era novidade para mim, nunca tinha passado por isso e parecia tudo muito legal e divertido”.

A jovem explica que essa responsabilidade a ajudou a criar valores bem diferentes de outros jovens e não se arrepende, pois, o amor que sentia por sua filha, Maria Julia, “supria essas vontades não realizadas”. Em relação ao colegial, ela afirma que, como seu parto estava previsto para novembro, ela ainda conseguiu frequentar as aulas até outubro e finalizou o ano fazendo trabalhos para compensar as provas finais. No ano seguinte, quando voltou às aulas, sua mãe olhava a Maria Julia no período da manhã enquanto ela estudava.

 

“Claro que o tempo e a experiência me trouxeram muita maturidade. Sempre fui muito responsável, devo isso a minha mãe que nunca me poupou de nenhuma responsabilidade em relação à minha filha. Ela me ajudou muito e me ajuda ainda, mas nunca deixou de exercer o papel de avó e eu de mãe”, se emociona Caroline.

 

Hoje, a jovem está no quinto ano da faculdade de Farmácia na Universidade de Franca e se forma esse ano. A cobrança foi grande e o cansaço também, principalmente por ter que conciliar a faculdade com trabalho e a atenção que era necessário para a filha, mas, em suas próprias palavras, como mulher forte e batalhadora que é, “Superei. Consegui”.

 

A psicóloga Sandra define as mudanças e transformações como uma “explosão”. “São muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Crescimento, aparecimento de pelos, músculos, mudança na voz para os meninos, menstruação para as meninas. Tudo junto e muito rápido. É assustador. Eu penso que o jovem começa a querer compreender, fica confuso, ele quer ser aceito e fazer parte, começa a questionar, começa a ter de ser cobrado mais, ter mais responsabilidades”. A especialista ainda afirma que essa passagem afeta o emocional e relação do ser em questão com a sociedade.

A especialista também alerta para os cuidados a serem tomados na adolescência. “Nessa fase vai ser muito importante que o jovem se cuide de maneira integral. Claro que, se ele tiver o apoio da família, vai ser importantíssimo, ter alguém com quem conversar, tirar as dúvidas, dialogar”. Além disso, Sandra ressalta a importância do cuidado com o físico, com o emocional e com o espiritual. Ela garante que, se o adolescente tiver todos os cuidados, ele vai ter uma passagem e vai atingir o amadurecimento sem turbulências.

 

O suicídio é uma das consequências, e a mais grave, de quando a transição da infância para a adolescência é cercada de problemas. De acordo com o Mapa da Violência do Ministério da Saúde, de 2002 a 2012 houve um crescimento de 35% da taxa de suicídio de adolescentes com idade entre 15 e 18 anos. Ainda segundo o levantamento, a solidão é o principal motivo. Diante desse quadro, a psicóloga Sandra Regina também ressalta a importância do papel dos pais.

 

Os pais têm um papel importantíssimo, afirma a especialista. A compreensão, o respeito e acolhimento dele com o filho será o principal fator colaborativo para o adolescente. “Essa novidade do filho querer ficar sozinho, se isolando pode gerar conflitos, se os pais não souberem lidar. A ausência dos pais pode se tornar motivo de revolta para o adolescente. “O papel primordial dos pais nessa fase é o amor. Se o jovem se sentir amado ele vai passar por essa fase, que é assustadora, de uma maneira muito mais leve. O papel dos pais é amar”, exalta Sandra.

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​© 2015 Universidade Presbiteriana Mackenzie. Criado com Wix.com

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