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Extremos

“Percebi que não era o único assexual do planeta, fiquei muito feliz! Senti mais confiança para me assumir. Lutei contra o preconceito no colégio e na família, confesso que nunca me senti tão orgulhoso de mim em minha vida!”, desabafa Alexandre, evidenciando que nunca obteve apoio dos familiares.

 

Alexandre

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 Numa pequena sala, localizada abaixo do nível da rua, na parte traseira da Paróquia Santa Cecília, na cidade de São Paulo, um grupo de indivíduos reúne-se por um motivo em comum: a compulsão sexual e/ou amorosa. Fundado no ano de 1976, em Boston, Estados Unidos, os Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (DASA) - nome que identifica e intitula o conjunto - estão espalhados por todo o país e buscam acolher os que enfrentam essa dificuldade. “Nós estamos abertos a toda e qualquer pessoa, independentemente de idade e orientação sexual. Nossa irmandade não tem liderança, o que nos une aqui é um problema em comum, que acaba nos tornando semelhantes, e o intuito final é o de colocar em prática aquilo o que é falado nas reuniões”, explica João*, um dos participantes ativos no DASA da Paróquia Santa Cecília. Todas as segundas e terças-feiras, das 8 às 10 horas da noite, agrupa-se um número de pessoas, que varia entre oito e 15. Sentadas em círculo, iniciam um encontro que repleto de juramentos e rezas, prioriza a partilha de experiências cotidianas e o amparo coletivo.

 

A dependência de amor e/ou sexo é uma doença que não tem cura, mas tratamento. Nos panfletos acumulados sobre a mesa, lê-se que pode ser definida como “o desejo compulsivo, obsessivo por sexo ou pela dependência exacerbada de uma ou de diversas pessoas”. Nesses doentes há um padrão comportamental no que se refere a sexo e/ou emoções. As relações acabam por se tornar destrutivas, não só para os que estão envolvidos, mas também para familiares e amigos, atingindo até mesmo a carreira profissional.Antônio elaborou, ao longo dos quatro anos que tem frequentado o grupo, uma percepção geral daqueles que costumam procurar esse tipo de auxílio, mas enfatiza que ela é de cunho pessoal e não tem ligação com pesquisas, estudos científicos. “Eu acredito que as contribuições maternal e paternal contam muito nesse processo. As ações dos pais, um pai muito ausente, ou excessivamente presente, assim como uma mãe drasticamente protetora, afetam o jeito com o qual a criança futuramente deve estruturar suas relações amorosas e sexuais”.

 

O jornalista e escritor Marcos Nogueira teve de se colocar na experiência de um observador neutro, livre de ideias e julgamentos próprios, na produção do livro Sociedade secreta do sexo. Viajando pelo continente europeu, frequentou festas em castelos na Itália, na França e Espanha. Em São Paulo, também foi até os ambientes dos swingers. SwingSwings são as experiências sexuais obtidas com troca de casais. De modo consentido, os parceiros fazem sexo com outra pessoa em ambientes que promovem festas destinadas a realização dessa prática. Os swingers são então os adeptos do swing. “Com relacionamentos de dez, 15, 20 anos, o casal tende a buscar alternativas. Acho que tem muita gente que usa isso como uma válvula de escape para extravasar alguns desejos que não são permitidos em relações monogâmicas comuns”, explica Nogueira. Para Antônio, o ambiente urbano, o ritmo de vida e a complexidade atual a qual o mundo está subordinado geram o esfriamento e o distanciamento das relações pessoais. Esses fatores se somam a lista de aspectos que influem nos comportamentos sexuais e amorosos. “Numa sociedade como essa, até que ponto nós somos os doentes? Eu acho que 95% das pessoas na cidade de São Paulo têm disfunções amorosas e/ou sexuais. Já começa a quando você sai fazendo mal aos outros sem se importar, vai aos locais em que sabe que vai encontrar sexo, ou seja, ter sexo fácil e mantém relações com diversos parceiros. A diferença entre nós, que estamos aqui e os outros, é que assumimos a doença e nos importamos em trata-la”. Ao fazer um breve panorama sobre as pessoas que buscam por swing ou por locais que promovem orgias, o jornalista Nogueira demonstra uma impressão similar. “Não há muitos jovens. O quadro clássico é o de pessoas, a partir dos 40, 45 anos, que querem escapar do tédio enorme da vida shopping center que levam. Aquela vida shopping center da cidade de São Paulo”.

 

Outras perspectivas

 

 

ainda dentro das questões que envolvem corpo, identidade e sexualidade, existe a outra extremidade: o conceito de assexual, que está em atual e constante construção. Se uma antiga sala com mesas e cadeiras, círculos, juramentos e orações retratam os encontros dos DASA, a comunidade dos assexuais tem por hábito os encontros que ocorrem de frente à máquina que é símbolo das transformações tecnológicas do século XXI: o computador. Alexandre* conta um pouco sobre o próprio processo de descoberta. “Eu não sentia interesse por coisas a mais com meninas e meninos, além de amizade. Eu não sabia o que era assexual. Eu me considerava nada sexual, até descobrir o que era pela internet!”. Elisabete Oliveira, pedagoga formada pela USP e principal pesquisadora sobre assexuais no Brasil, afirma que os ambientes digitais foram relevantes e modificadores no que diz respeito à descoberta e a aceitação pessoal. “As tecnologias facilitaram muito a integração dessas pessoas e o encontro das trajetórias de auto identificação, para que assim, pudessem ser trilhadas”. A característica levantada pela pedagoga é constatada nas pesquisas feitas via internet. AVEN (Asexual Visibility and Education Network) e a Comunidade Assexual são alguns dos principais espaços online dedicados ao tema. As pesquisas e estudos são muito recentes e mesmo no mundo acadêmico, há estudiosos que não reconhecem a existência de seres humanos assexuais - circunstância que desencadeia mais análises e debates contínuos. O conceito está em processo de elaboração, mas o termo assexual tem sido utilizado, de maneira simples, para classificar pessoas que não sentem interesse pela prática sexual. “É importante esclarecer que assexuais não são indivíduos que sofreram algum tipo de trauma sexual, como o estupro, por exemplo, e por essa razão não deram continuidade as experiências sexuais”, ressalta a especialista. Por ser um assunto moderno e ainda gerar incertezas por parte da classe científica, que se esforça para obter resultados credíveis, o tema tem viabilizado preconceitos e discriminação.

Por Jessica Morais, Leidiane Macedo

As questões que concernem o tema da sexualidade e seus padrões, que são determinados por uma sociedade adoentada, que constrói relações cada vez mais rasas.

Padrões e suas extremidades: as sexualidades em pauta

João*: nome fictício determinado pela fonte. Foi utilizado no intuito de não ferir o anonimato.

Antônio *: nome fictício determinado pela fonte. Foi utilizado no intuito de não ferir o anonimato.

Alexandre*: nome fictício determinado pela fonte. Foi utilizado no intuito de não ferir o anonimato.

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