Tendo que mudar suas atitudes e comportamentos. Agora, quando recebe solicitações de amizade de homens, analisa muito bem o perfil antes de aceitar, como relata Daiane, “se eu vejo que ele só tem amigas mulheres, ou então, se não consigo visualizar a lista de amigos não adiciono”. Já aconteceu de ela receber uma solicitação, não aceitar e a pessoa mandou, de novo, mais de dez vezes.
Ela aconselha as vítimas de abuso a não se calarem. Na internet ou na rua, que gritem, se manifestem contra pessoas que agem de forma abusiva. Fazer com que eles sintam vergonha do que fizeram. Como já fez uma vez em uma abordagem na rua, quando ouviu um sonoro “gostosa” de um homem e gritou para todo mundo na rua ouvir seu descontentamento.
Sentimentos que se assemelham entre as mulheres que são alvos. Para a Rosangela, isso é totalmente humilhante. “Eu me sentia chateada, envergonhada, eu estava grávida, que falta de respeito! Ele está falando do meu corpo, em vez de falar do meu bebê. É um momento muito difícil, você fica sem saber o que fazer”, realça com constrangimento ao lembrar do ocorrido, contando que só decidiu falar para o marido depois que o chefe tomou uma providência, pois o medo de acontecer algo com o meu marido, era maior. Depois que a sua filha nasceu, não voltou mais para o banco.
Essas são consequências tanto psicológicas como comportamentais, descreve a psicóloga. “Elas podem vir a desenvolver depressão, síndrome do pânico, fobia social entre outros problemas associados ao trauma, ocorrendo após o acontecimento ou não. Podendo prejudicar ou bloquear de alguma maneira o andamento natural de sua vida profissional, social e afetiva”, explica a profissional.
Para a engenheira elétrica e mestre em microeletrônica, Juliana Nemer, conta que uma das principais dificuldades é a questão comportamental. Por trabalhar e conviver num ambiente em que a maioria são homens, muitas vezes precisa se comportar de maneira séria e se vestir de maneira reservada para não chamar tanto a atenção. “A princípio, se você quer ser respeitada, você precisa ser mais dura, e se vestir de maneira adequada é imprescindível. Se você age de maneira mais amigável, gentil demais, os homens podem interpretar de outra maneira, achando que você esta dando muita liberdade e querendo outra coisa. Mas, a partir do momento que já conhecem o seu caráter, você pode agir naturalmente”.
O bom censo é primordial. A psicóloga Daniele defende a ideia de que “devemos nos posicionar quanto pessoas e usar determinadas roupas mais curtas em ambientes que permitem a utilização. Por exemplo, clubes, praias, entre outros. Na igreja, no trabalho por exemplo não podemos chegar de biquíni ou sunga, a não ser que trabalhasse como salva-vidas num clube”.
Mas, como ainda convivemos com muito preconceito em nossa sociedade. Para muitas pessoas, ainda hoje, a mulher que usa roupa curta ou tem um jeito mais extrovertido está se oferecendo ou se insinuando. “Acredito que o que realmente importa é o comportamento dessa mulher, e não a roupa que ela utiliza”, pontua Daniele.
A mulher ainda é vista como objeto por muitos homens. A sociedade impõe comportamentos de personalidade e a maneira como ela se veste, tirando sua autonomia, o que difere quase completamente do homem. As discussões sobre o tema são atuais, então a conscientização por parte de ambos os sexos, pode demorar, mas com a disseminação da informação, chegaremos ao estado de igualdade.
Muitas mulheres passam pelo mesmo problema que a Rosangela e a Daniela, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Avon e o Data Popular, em 2014, com 2.046 pessoas. Dentre os pesquisados, homens e mulheres de 16 a 24 anos, mostrou que 78% das mulheres entrevistadas foram assediadas em lugares públicos, contra 28% dos homens. E ainda relata que há um predomínio de concordância correlação aos padrões machistas, como 51% concordar que a mulher deve se relacionar sexualmente pela primeira vez com um namorado sério.
Pensamentos Diversos
Alan Gomes Ribeiro, concorda com o pensamento de que mulher tem que ter comportamentos mais reservados. Dono do site www.sobrerelacionamento.com, dá dicas sobre relacionamentos e sobre como homens e mulheres devem se comportar. Com cinco mil acessos diários, o site tem postagens bem individualistas como: “Libertinagem: O melhor caminho para sua infelicidade”, “Quer ser promíscua? Então prepare-se para ser sofrida” e “Focando e aumentando o valor: Como deixar de ser piriguete”.
A psicóloga acredita que essa diversidade de pensamentos está ligada ao aprendizado. Para ela, grande parte desse comportamento e pensamento é devido a um aprendizado adquirido através do meio social em que o indivíduo está inserido. Mas, em alguns casos mais sérios, como o da Rosangela, o indivíduo pode ter algum Distúrbio Neurológico ou Distúrbio de Personalidade, como Psicoses , que modificam sua conduta e comportamento social.
O blogueiro tem consciência de que seus posts limitam o comportamento das pessoas e diz que a falta do limite, é o “maior erro que alguém pode cometer. Uma vida vivida de qualquer jeito, fazendo tudo que se quer, dá a falsa sensação de liberdade, no entanto, depois que tais práticas sem limites são feitas, trazem grandes consequências para a vida das pessoas, principalmente no que diz respeito à área sentimental”. Discordando, ainda, que nossa sociedade evoluiu para um pensamento que preza a liberdade, mas diz que evoluiu para um estágio de libertinagem.
Alan acredita em comportamentos que promovam o bem-estar. “Alguém pode achar que sair por aí transando com qualquer pessoa é ‘liberdade’ e quando eu falo que isso não é bom, estou sim limitando o comportamento dela, mas isto é para evitar um mal maior, que seria pegar uma DST, uma gravidez indesejada ou mesmo sofrer por amar alguém sem caráter”. O “mal maior” pode ser evitado sem que isso afete à vontade, a liberdade e a felicidade de alguém. Cria juízo de valor a pessoa que quer adotar esse tipo de comportamento, “aliás, pessoas sem caráter, que só querem diversão, sexo e outros, é o que mais se encontra quando se vive um comportamento disto ‘sem limites’”.
Em sua defesa, Alan também faz posts similares sobre homens, e não acha que deslegitima uma luta que os homens não têm, pois contrapõe direitos de comportamentos iguais e diz que reivindicar comportamentos iguais, é um “erro grave”, pois ela está querendo “errar” assim como o homem.
Ainda garante que é impossível alguém seguir suas dicas e ser infeliz, por isso se isenta de qualquer tipo de problema que possa ter devido a elas. Ilustra dizendo que “se eu disser para um milhão de mulheres não se vestirem de maneira insinuante, eu estou fazendo um milhão de mulheres se valorizarem um pouco mais e entenderem que para se sentir bonita não é preciso nada disso. Tem como alguém se dar mal seguindo dicas assim? Impossível”.
Finaliza dizendo que não existe homem e nem mulher ideal, como indivíduos independentes. “O que existe é a mulher ideal para o homem ideal para ela”.
Em contraponto com o site de Alan, a estudante de jornalismo Bruna de Lara de 20 anos, criou um site e página no Facebook: “Livre de abuso”, com notícias e frases impactantes sobre relacionamentos abusivos, já que muitas vezes, a mulher acha que a culpa é dela. Bruna criou a página e site depois de sofrer com um desses relacionamentos, e teve grandes dificuldades em encontrar notícias e artigos relacionados ao tema, e o pouco que encontrava era em inglês.
O intuito da página e site, é “conscientizar as mulheres sobre a existência e a gravidade de diferentes tipos de abuso que são muitas vezes esquecidos no debate sobre violência contra a mulher, muitas vezes focado unicamente na questão das agressões físicas”.
A conscientização, segundo ela, é importante, pois a transferência de culpa do agressor para a vítima “ajuda a massacrar o papel do agressor”. Ela ilustra com “não é seu parceiro que a está maltratando – é você que o está constantemente magoando ao não dar o que ele quer”. Pensamentos como esse, faz com que a mulher tenha dificuldades em enxergar sua verdadeira situação, e cria justificativas e desculpas para comportamentos inadequados.
Quem manda na mulher é ela mesma
Muitos homens acham que a investida na mulher, sem o consenso, é normal, esquecendo que há uma vida e sentimentos por trás
Rosangela, uma linda mulher, com 48 anos e mãe de duas filhas, já foi vítima de assédio sexual. Há 30 anos, quando ela trabalhava no Banco Nacional, na região do ABC, passou por um momento muito desagradável quando engravidou de sua primeira filha. Lá, ela tinha um colega que nunca demonstrou nenhum interesse por ela, já que trabalhava lá desde que era solteira. Contudo, quando ela engravidou e com o avanço da gestação, o rapaz passou a olhá-la de maneira diferente, começou a sentir uma atração.
Tudo começou com elogios pequenos. E com o passar do tempo, passou a ser desagradável. “Ele chegava e falava: ‘Nossa, como você esta linda, eu fico imaginando você se trocando, tomando banho’. Eu não entendia a princípio, o porquê alguém iria dar em cima e falar isso para uma grávida de cinco meses que estava com a barriga crescendo...”, relembra a moça explicando que quando sofreu o assédio sexual no trabalho, não era como hoje que existe uma lei sobre isso, por consequente, muitas vezes não se tomavam muitas providências. Ficava por isso mesmo.
Ficando constrangida e envergonhada, Rosangela passou a advertir o rapaz, mas apesar de nunca aceitar a atitude do colega, ela tinha receio com relação ao trabalho dele. “Eu estranhei porque ele não era assim, eu achava que ele estava passando por um problema até psicológico para agir dessa maneira, por isso que eu tinha medo”.
Misto de sentimentos que ocorre em todas as vítimas. Daiane Ludwig, é uma jovem consultora de negócio, de 26 anos, que usa as redes sociais e frequentemente, recebe solicitações de amizade de homens no Facebook, mesmo com muitas fotos do marido em sua página, na maioria das vezes, eles querem conversar com segundas intenções.
Mas, um caso chamou sua atenção. Um dos amigos de seu pai a adicionou no Facebook e mesmo sabendo que ela era casada, tentou uma conversa completamente inadequada, a chamando de linda entre outras coisas. Mesmo dizendo que era casada há quatro anos, teve que ler do homem que “tem pessoas mais humanas para conversar”.
Para a psicóloga e pedagoga Daniele Saggio, o ponto relevante entre o xaveco e o assédio é o respeito que deve existir entre qualquer individuo, independente do sexo. “Ter a sensibilidade em colocar-se no lugar do seu semelhante e fazer uma autoanálise: "E se fosse comigo, ou com minha irmã(o) eu me sentiria confortável com a situação?". Dessa maneira, o assédio começa quando o respeito acaba, sendo assédio moral ou sexual, atingindo a integridade do individuo. Tudo isso gera grandes consequências psicológicas e sociais para a vítima.
No caso da Rosangela, a situação levou mais tempo e só ia se agravando. Então ela conseguiu ter coragem e resolveu denunciar para o chefe o ocorrido. Como sempre foi uma mulher muito respeitada no banco, todos reprovaram a atitude do rapaz. Por isso, o chefe repreendeu o funcionário, dizendo que se ele fizesse isso novamente, seria demitido. E só assim o funcionário se desculpou.
Por Bruna Pinheiro e Juliana Fernandes
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Sentimentos e Traumas
Dessa forma, vemos que o assédio está em muitos lugares. Ele não faz apenas parte do mundo real, o virtual também está cheio de casos de abuso. No começo, Daiane se sentiu uma droga, tentando entender qual era o problema dela, o que muitas mulheres se perguntam ao serem assediadas. Não entendia como alguns homens a tratava com intimidade se não tinha vínculo nenhum com eles. Foi quando percebeu que o problema não era dela e começou a revidar e ser vista como “estúpida” por eles.
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